sábado, 27 de dezembro de 2014

Crônica da sandália arrebentada


Sabe aqueles dias em que a gente decide desenterrar um item de moda do fundo do guarda-roupa para testar se poderemos nos orgulhar da compra, que, afinal, durou anos e ainda está arrasando, ou colocar na pilha de doação? Pois então, em um desses dias, desenterro uma sandália dourada de salto alto com duas tiras cruzadas no peito do pé.

Vou à pé ao escritório, que fica a aproximadamente 8 quadras da minha casa. Devido ao salto e às tiras da sandália - que ameaçam a estabilidade dos pés, vou em velocidade média, bem cuidadosa.

Na primeira esquina, percebi que a sola da sandália estava lisa no pé direito... Devido ao fato de que já fui vítima de alguns tombos provenientes de escorregões no meio da rua, fiz uma nota mental para destinar o sapato à pilha de doação no fim do dia.

Mais duas esquinas e dou uma deslisadinha... Wow! Diminuo a velocidade pela metade, pisando em locais estrategicamente escolhidos e torcendo para não cair porque adoro a calça que estou usando.

Estou pisando em ovos!

Duas mega subidas depois, na hora em que a rua finalmente começa a descer, a meio caminho do escritório, uma das tiras do pé direito arrebenta. Paro, meio preocupada, e penso: "ok, posso chegar no escritório e grampear a tira que soltou...".

Agora é preciso redobrar os cuidados já redobrados, dar uma relaxada no pé direito e andar apenas levantando o calcanhar. Mas, a saga ainda não tinha chegado ao fim, uns metros depois, arrebenta uma das tiras do outro pé.

Nesse momento só espero que minha mãe esteja na cidade na hora do almoço para me dar uma carona até em casa para que eu possa trocar de sapato.
Então, já em pânico, continuo o meu caminho sem quase mexer os pés, confiando na tira do calcanhar para manter meus pés calçados. Mais três passos e a outra tira do pé esquerdo se vai!

Agora a coisa ficou preta! Tento ajeitar a sandália de maneira a arrastá-la tal qual um chinelinho, mas minhas tentativas são em vão! Então, desolada, já no meio do caminho entre a minha casa e o escritório, pego as sandálias na mão e volto descalça para casa.

Nesse momento, permeiam a minha mente todos aqueles filmes em que a mocinha tira o salto para correr atrás do amor da sua vida! Mas a realidade é bem menos glamorosa e tal pensamento romântico é substituído pela enumeração de tudo o que pode estar em contato ou mesmo entrar no meu pé descalço durante o caminho da volta...

 Ladeira abaixo, vários tipos de terreno, uns mais doloridos, outros menos, entro em casa, troco o sapato, ladeira acima de novo... E chego no escritório parecendo que trabalhei a manhã toda levantando parede em uma construção!

A esperança dos novos 20

Já faz muito tempo que, em meio ao turbilhão de pensamentos e sentimentos, eu estruturei um post para o blog, rascunhei em algum lugar e deixei pra lá. Hoje, às 3h da matina, resolvi que é agora ou nunca para dar o grande start.

Tudo começa com a reflexão que não tem saído da minha cabeça desde...nossa, acho que desde quando tinha uns 20 e pouco anos. O que antes era só uma imagem nebulosa do "como será quando eu chegar aos 30", se tornou realidade num piscar de olhos.

A utopia de já ter uma vida estável, ter um trabalho "digno", degustar vinhos em sessões queijo e vinho no meu próprio apartamento e, quem sabe, já ter um marido para chamar de meu _acho que filhos não faziam parte do pacote_ se dissipou no ar com uma realidade até que bem parecida com a anterior.

E cá estou eu, novamente numa redação, trabalhando loucamente e sem previsão de um salário compatível com tal esforço. Fisicamente bem parecida, não me vejo como um mulherão, mulher de negócios, mas sim como uma jovem adulta _cujas preocupações passaram de "com que roupa vou na balada" para "putaquepariu, tá todo mundo ficando velho".

Sim, to com medo de ficar velha. Ao mesmo tempo em que me dou conta de que já estou velha. O pique não é o mesmo, o corpo dá sinais de fraqueza, a pele não tem a mesma jovialidade...

Tenho reparado muito no envelhecimento das pessoas. Não nas próximas, cuja mudança eu acompanho, mas sim naquelas que não vejo há algum tempo e me assusto ao ver como o tempo passou. Medo.

Mais do que uma "análise do outro", o que me incomoda é lembrar que comigo acontece o mesmo. Olhar fotos antigas e me dar conta de que não sou mais aquela garota. E que, assim como 1+1=2, a tendência é piorar rs

Não dá pra parar o tempo _brilhante conclusão!_ mas, que caminhos tomar?

Não me arrependo, em linhas gerais, das decisões de vida que tomei, mas me vejo estagnada num ponto em que não sei para onde ir. Dos 20 pra cá foi um pulinho e não quero parar daqui a pouco e ver que o próximo pulinho já aconteceu sem antes conquistar tudo aquilo que almejo.

E o que eu quero? Nada específico. Eu só quero ser feliz (como a música diz), aproveitar a vida, fazer com que muitas histórias se passem antes das linhas de expressão se firmarem no meu rosto, dar muitas risadas que, eu sei, involuntariamente, vão contribuir para os pés de galinha.

Confesso que ainda estou temerosa em relação a vida passando na velocidade da luz, então prefiro me apegar à ideia de que os 30 são os novos 20 e tentar manter a energia e jovialidade. E espero estar mais realizada quando os "verdadeiros" 30 chegarem.